“Qualquer idiota inteligente pode fazer coisas maiores, mais complexas e mais violentas. Mas é preciso um toque de genialidade – e um bocado de coragem para seguir na direção oposta.” E.F. Schumacher
Mais de quarenta anos após sua morte, as ideias de E. F. Schumacher, conhecido economista e filósofo, ainda ressoam nas mentes e corações de economistas, ecologistas e futuristas contemporâneos: Parafraseando a citação acima, “Qualquer idiota sabe complicar as coisas, mas é preciso ser um gênio para torná-las mais simples.”
Certa feita, ele fora enviado pelo governo inglês para aconselhar o governo da Birmânia (na época, ainda era Birmânia) em assuntos econômicos. Depois de algumas visitas a vilarejos e cidades ele concluiu que tinha muito pouco a aconselhar aos cidadãos da Birmânia, segundo sua visão econômica do Ocidente. Tais cidadãos tinham um sistema econômico perfeito que apoiava uma religião e uma cultura altamente desenvolvida e que produzia arroz, não só para o seu próprio povo, mas também supria a demanda de mercado da Índia.
Depois dessa experiência, ele publicou um artigo em que mencionava pela primeira vez a expressão ‘economia budista’; seus colegas economistas perguntaram-lhe o que economia tinha a ver com budismo. Sua resposta foi: “Economia sem espiritualidade é como sexo sem amor. Ela pode dar a você uma gratificação física e temporária, mas não pode oferecer uma realização interior. A economia espiritual faz com que serviço, compaixão e relacionamentos estejam em pé de igualdade com o lucro e a eficiência. Precisamos de tudo isso, simultaneamente.”
Ele foi o primeiro economista do Ocidente que ousou colocar juntas as palavras budismo e economia. A partir dessa experiência ele desenvolveu a ideia de tecnologia intermediária, apoiada no caminho do meio do budismo e que deveria aproximar a distância entre a alta tecnologia, usada na agricultura de alguns países e o arado e a foice utilizados por outros.
Isso é importante porque Schumacher tinha a visão do futurista e visionário, que intuía e via com muitos anos de antecedência, o que seria necessário para a criação de realidades desejáveis e sustentáveis para todos os seres. Seu discurso e ação estão mais atuais do que nunca.
A indústria agrícola no mundo pode ampliar suas visões e enxergar novas possibilidades de atender as necessidades tão complexas e conflitantes, no que se refere às questões agrárias. Será que o tipo de economia que Schumacher propõe e a utilização de tecnologias intermediarias não seriam instrumentos de apoio e de soluções viáveis para as questões da terra? O termo ‘espiritualidade’ poderia ser compreendido como respeito a tradições e culturas, sensibilidade e compaixão aplicadas para distribuir melhor o bem comum.
O pensamento e o conhecimento profundo de Schumacher atrelado à ideia de ‘o pequeno é belo’ (small is beautiful, traduzido como O Negócio é Ser Pequeno, conhecido livro de sua autoria) permanece sendo mais verdadeiro do que nunca. Ele continua a contribuir com a transformação da sociedade, de modo que países e comunidades possam convergir para níveis equiparados de desenvolvimento, dentro dos limites dos recursos da terra e com equidade e justiça para as pessoas, hoje e para as futuras gerações.
O que se pode continuar fazendo e construindo com as ideias expressas na obra E. F. Schumacher vai ajudar as pessoas a se prepararem para um futuro, no qual mudanças perturbadoras poderão acontecer cada vez mais rapidamente e demandarão um alto grau de adaptabilidade. Particularmente, no que se refere a como trabalhar com a natureza, com tecnologias apropriadas e na escala correta, levando sempre em conta o trabalho significativo, o desenvolvimento centrado nas pessoas e suas reais necessidades, ações locais, paz e abordagens não violentas.
“Uma atitude de vida na qual se quer satisfação ou realização na busca exclusiva de riqueza – numa palavra, materialismo – não combina com esse mundo, porque a riqueza não tem um princípio ou um sentido de limitação, enquanto que o ambiente no qual ela é colocada é estritamente limitado.”
― E.F. Schumacher, Small Is Beautiful: Economics as if People Mattered
por Sônia Café – Escritora, Co Fundadora de Nazaré Uniluz.