Da segunda vez que fui a Nazaré Uniluz, escolhi a vivência do “silêncio”. Cheguei numa sexta-feira, recebi as orientações e fui para o meu quarto. Ao entrar, imediatamente senti uma enorme sensação de paz e harmonia. Ao mesmo tempo, fui sendo envolvida por um grande cansaço e muito sono.
Vinha trabalhando muito e vivendo num ritmo bastante acelerado, estava cheia de ansiedade, incertezas e culpa. Trouxera livros, papel e lápis, mas não conseguia nem ler nem escrever. Tudo o que consegui foi adormecer.
Ao acordar no dia seguinte, aquela paz continuava e de modo ainda mais profundo. Meditamos e após o desjejum voltei para o meu quarto. Não consegui ficar acordada! Era mais forte do que eu ficar naquele estado”. Dormi por várias horas.
Quando voltei desse sono (não sei bem se foi sono), senti um forte impulso de escrever e foi o que fiz. Escrevia rapidamente, sem pensar muito. Nem sei se tinha muita consciência do que escrevia, apenas ia colocando no papel as ideias e pensamentos que me chegavam à mente.
Lembro-me de que, em resumo, as ideias tinham a ver com a beleza do lugar, com a plenitude que eu sentia e com a grande necessidade que o meu Ser sentia de ficar mais tempo ali. Na hora não dei importância nem avaliei o que acabara de escrever.
O mais importante de tudo é que, num segundo momento, dei-me conta, ao conversar com Sara Marriott, do quanto aqueles depoimentos, ali no silêncio do meu quarto, faziam sentido.
Pedi ajuda a Sara para decifrar aquela história de “ficar por aqui, de morar por perto”, pois tudo isso era muito estranho e muito recente para mim. Ela disse que tudo poderia ser realidade e que era o desejo da minha alma. Brincou comigo dizendo que, enquanto eu relatava a minha história, ela vira uma borboleta azul, e que esse fora também um sinal de que ela ficaria no Brasil…
Ao término da entrevista encontrei um grupo de pessoas de Nazaré Criança, um outro Centro que estava se formando nos arredores e onde haveria uma escola e outros trabalhos.
E, naquela mesma noite, providenciei a compra de um terreno bem próximo dali, dando ao grupo que encontrara, meu consentimento para iniciar as negociações, sem mesmo conhecer o terreno onde construí e vivi numa linda casinha, em frente à represa, por duas décadas para vivenciar mais de perto os aprendizados de Nazaré.
Agora aqui estou eu, contando esta história, partilhando com vocês o quanto a minha vida e a da minha família tomaram um novo rumo a partir daquela decisão de seguir o chamado da minha Alma.
No exercício da paciência e do amor, aprendi a caminhar e a parar, a esperar e a realizar, transformando assim sonhos em realidade.
Tânia Henrique Pereira – Associada, membro do Conselho de Anciãos e Voluntária de Nazaré Uniluz