A consciência não tem conteúdo. Não é pensamento, nem percepção, nem sensação, nem sentimento e nem intuição. Disso decorre uma dificuldade fundamental: como se referir a ela (a consciência) usando a linguagem oral ou escrita, que são manifestações próprias do pensamento?
Só podemos fazê-lo usando o atributo que define a consciência da maneira mais aproximada possível, usando a linguagem, mas sem se subjugar inteiramente a ela. Precisamos aceitar que qualquer dizer, por mais preciso que seja, nunca dá conta do inefável.
Consciência é então, creio que podemos dizer assim, o “dar-se conta”. Dar-se conta do próprio pensamento; dar-se conta das sensações, dar-se conta das intuições e dar-se conta dos sentimentos. Dar-se conta sem se confundir com nenhuma dessas funções psíquicas. Isto pode parecer com o que costumamos chamar de autoconhecimento, mas é diferente. É bem verdade que o grau de autoconhecimento depende diretamente do grau de ampliação da consciência, mas não se confunde com ela. Sendo assim, pode-se dizer que o autoconhecimento emerge da consciência, mas (repito) não se confunde com ela.
Dito isto, e se for assim mesmo, uma vez que aceitemos a ideia de que a consciência pode ser ampliada, isso significa que deve haver diferentes níveis de consciência, vários graus do “dar-se conta”. Talvez, então, possamos imaginar uma escala onde haja um mínimo e um máximo de consciência.
Se compartilhamos a ideia de que o autoconhecimento é essencial para o desenvolvimento integral do ser humano, então trafegar por esses níveis de consciência, na direção do seu hipotético ponto máximo, é a tarefa primordial de qualquer ser humano em seu caminho evolutivo.
Até agora estamos falando de seres humanos individuais e dos seus respectivos potenciais do “dar-se conta”. Contudo, cada nível de consciência individual nasce de um infinito oceano consciencial que é, segundo muitas tradições sapienciais, o manancial de toda a manifestação: o Deus, o Vazio, a Totalidade, a Unidade. Mas, creio que isso é ir longe demais para o que estamos nos propondo a discutir agora, naquilo que denominamos de Atendimento Consciencial.
Como seria possível se desenvolver nesse “campo” que não contém nada?
O Conselho de Anciãos, eleito pela Associação de Nazaré Uniluz (instância máxima da Universidade) possui larga experiência de vida dentro e fora da Instituição, buscam acolher e apoiar as demanda de indivíduos e grupos interessados numa investigação sincera deste campo consciencial.
Este encontro entre o membro do Conselho e um indivíduo ou um grupo, a Universidade de Nazaré Uniluz, intitulamos de Atendimento Consciencial.
Especificidades do Atendimento Consciencial
Primeiro, comecemos pelo que notoriamente não é: atendimento consciencial não é, por exemplo, um trabalho de assistência social, não é um trabalho de clínica médica, não é um trabalho de correção e/ou estímulo comportamental, não é um trabalho de aconselhamento espiritual. Segundo, embora aqui haja uma sutil diferenciação, não é também um trabalho de clínica psicoterápica, isto é, não visa a cura de algum distúrbio, alguma dor, de algum comprometimento cognitivo ou de algum sofrimento específico de ordem psicológica.
Penso que a única forma de fazê-lo é criar um processo gradativo de afinação e sintonia dos dois “campos” que interagem na dinâmica do Encontro. O campo pessoal e transpessoal de quem atende e de quem é atendido. Isso não quer dizer que os dois agentes envolvidos devam permanecer em silêncio (isto até pode acontecer), mas que todos os recursos dialógicos disponíveis possam ser usados adequadamente, mesmo sabendo que a linguagem nunca dará conta integralmente do processo.
O que, então, o atendente consciencial pode oferecer como resposta à demanda de alguém que o procura?
Eis aqui a sutileza que diferencia o atendimento consciencial da psicoterapia: é a natureza da intenção do atendente, pois o que ele quer é que o atendido apenas “se dê conta”, nada além disso. Ele não está pretendendo curar, salvar, recuperar, corrigir, consertar, avaliar, julgar, diagnosticar. O atendente consciencial não precisa valer-se de nenhuma teoria ou técnica de qualquer uma dentre as escolas de psicologia visando compreender a dinâmica psíquica do atendido. Ele vai trabalhar numa zona que está aquém do psiquismo, que é, digamos, a “fonte” de onde brota todo o fenômeno psíquico. Trata-se de um lugar vazio, sem palavras, sem conceitos, sem regras.
Todo trabalho consiste, então, em tentar promover a atmosfera e as condições para que ocorra uma descoberta, a emergência de alguma luz.
Essa descoberta é exatamente o “dar-se conta” da ilusão básica que nos faz crer que a mente, o pensamento, as sensações, os sentimentos são a única realidade. São realidades, sim, porém têm como pano de fundo a consciência que subjaz a todas essas dimensões do psiquismo.
Um trabalho como esse, embora não se destine a ser terapêutico, pode ser profundamente curativo, no sentido de que pode gerar uma súbita ou gradativa libertação e alívio do indivíduo que se encontra envolvido nas sombras e nas grades da ilusão. O fato de ser terapêutico não é, digamos, a intenção principal do atendimento, mas uma decorrência natural.
O atendimento consciencial na prática
Cada vez que alguém se dá conta profundamente de si mesmo, do outro, do meio ambiente cultural e natural que o cerca, surge mais um ponto de luz na humanidade. A transparência do ser é o resultado direto da expansão da consciência.
Na prática, o atendimento consciencial é o encontro de duas pessoas com a finalidade, através do diálogo aberto, de alargar os horizontes do conhecimento de ambos. Entretanto, há aí uma assimetria: o atendente está intencionalmente voltado para uma possível expansão da consciência do atendido.
Como é um trabalho de natureza extremamente sutil, o atendente oferece uma maturidade conquistada e assumida, além de um repertório existencial acumulado e constantemente examinado, de tal modo que possibilite colher dele os melhores frutos para oferecer ao outro no encontro dialógico.
Nesse mútuo espelhamento é de se esperar que a consciência emerja com certa facilidade. Ambos (atendido e atendente), deverão sair do encontro melhores do que quando entraram, num processo de amadurecimento mútuo.
“O melhor serviço que podemos prestar ao outro é tornarmo-nos nós mesmos.”
Jean-Yves Leloup
Taunay Daniel, Vice-Presidente o Conselho Diretor, Membro do Conselho de Anciãos e Coordenador da Pós-Graduação em Psicologia Transpessoal de Nazaré Uniluz
Para quem sente o chamado de dar esse passo rumo a um despertar mais amplo da consciência, no link abaixo você terá mais informações sobre o Aconselhamento Consciencial oferecido em Nazaré Uniluz.