Convidamos você para uma experiência perceptiva do que poderá significar, no mais profundo da consciência, a Casa, o lugar onde se habita, como instrumento de serviço, abrigo e recolhimento. Em nossas vidas compartilhamos todas as nossas atividades com estes seres-casa que fornecem o espaço para a nutrição em todos os níveis do ser, o palco onde grande parte da nossa experiência criativa tem lugar.
Se passamos pela experiência de nos construirmos juntos, podemos dizer que esses seres-casa nos conhecem, assim como nós os conhecemos. Depois de um ser-casa construído, surgem todos os trabalhos a serem feitos na manutenção diária e constante de sua ordem, limpeza, harmonia e beleza, como dons de boas-vindas para quem quer que delas se aproxime. Na Casa, esses dons refletem o espaço interno daqueles que a habitam.
Como fazer para que o espírito onipresente em tudo à nossa volta emerja nas nossas mais elementares atividades? Como fazer para que a Luz interna, o Amor superior e uma serena e radiante Alegria encontrem passagem através de nós e se manifestem aqui, no ato de arrumar, limpar, varrer, desempoeirar? Por que deixar para depois ou somente para quando for possível estar sentado em quietude ou em condições especiais para se sentir conectado com a essência de tudo à nossa volta?
Estamos agora diante do desafio de nos libertar da ideia de separatividade que possa existir dentro de nós e buscar a comunhão com a Essência presente em tudo, livre dos condicionamentos que a bloqueiam. E constitui um passo decisivo para essa união estar diante de tudo como se estivesse diante de algo novo, seja um objeto, tarefa ou pessoa, dando-lhes a nossa total atenção e cuidado, deixando que a nossa presença esteja inteiramente ali, em perfeita comunhão com a presença do outro ser.
E, quando convidamos você para participar conosco deste desafio de não se sentir separado da vassoura que varre, nem do vaso sanitário que se lava, fazemos isso sabendo da necessidade de disciplina e de uma intenção focalizada na atividade que se executa. A atitude interna de ordenação e de intenção focalizada na atividade que se executa. A atitude interna de ordenação e concentração enquanto se trabalha pode transformar-se num exercício meditativo. A beleza e o brilho de um lugar limpo e ordenado talvez falem mais claramente que as palavras.
A realidade da “presença” de Deus em tudo não se resolveria simplesmente “dizendo” que Ele está em toda parte. A qualidade do nosso intento, da nossa percepção, a capacidade a ser desenvolvida em sermos transmissores de vida, aliada à consciente de que Deus pode ser percebido e expresso através da nossa mais rotineira atividade é o que fará com que essa Divindade se faça presente aqui e nos libere de todo sentimento de separatividade. E isso exige prática, disciplina e dedicação.
Seguir uma rotina é seguir a imutabilidade de uma lei natural, é mover-se no caminho da menor resistência. Se pensarmos na rotina da Natureza e se a observarmos, veremos que essas leis e formas ali presentes são inerentes ao seu próprio ser, representando a harmonia, beleza e ação acontecendo num ritmo imperturbável. Os corpos celestes não se desviam dos seus cursos, mas seguem uma regularidade fixa, vital e disciplinada.
Repletos de tarefas e atividades rotineiras estão os seres-casa que nos servem e acolhem. Se pensarmos na casa como se fosse um corpo, e na sua necessidade de limpeza, purificação, ordem, ritmo e harmonia, poderemos compreender, interna e externamente, o verdadeiro significado do varrer, lavar, arrumar. Estaremos, enfim, diante de uma oportunidade extremamente criativa de transformação e transmutação.
Há sempre uma ação interna acontecendo em resposta a algo que estejamos fazendo externamente. E a qualidade amorosa de nossa atenção se irradia para tudo e para todos. Através da nossa cooperação consciente nos trabalhos que dizem respeito ao cuidado e às necessidades dentro do ser-casa, poderá ser possível construir uma ligação com a consciência mais elevada dentro de nós.
Transformar o trabalho de arrumar uma Casa numa tarefa extremamente criativa e transmissora de vida só depende de nós mesmos. Com isso aprendemos a ver a realidade divinizada de cada atividade dentro desse ser-casa, que passa a caber dentro de nós, como experiência viva, transcendendo os limites do seu espaço-forma.
“Não procede a crença de que as pequeninas coisas são pouco importantes ou vulgares para a Minha Guiança. Eu que criei o átomo não estou acima ou abaixo das coisas, mas sou todas elas. Se você me deixa fora de uma parte qualquer de sua vida, esta parte ficará na escuridão. Isso não significa que você seja um escravo, isso simplesmente quer dizer que a sua consciência está aberta o tempo todo, ao invés de se fechar enquanto você executa algo de rotina. Toda a vida é para ser glorificada, não apenas as partes. O céu não é um estado de meio expediente. Permita que a nossa unidade exista sempre, a todo instante”.
(Dorothy Maclean – Wisdoms)
Para reflexão:
Arrumar, limpar a casa é poder estar sempre de portas abertas para receber.
O espaço externo espelha o nosso interior.
Limpar é retirar as manchas dos conflitos, histórias, é deixar fluir o novo, é renovação.
O limpar e ordenar não é apenas “no meu quarto”, “na minha casa”, mas fazer isso para o “todo”.
Texto Sônia Café – Escritora, Co Fundadora e Colaboradora de Nazaré Uniluz